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Acabo de sair do cinema e sinto que estou a refletir sobre Joker: Loucura a Dois mais do que qualquer outro que tenha visto recentemente nestas paredes desta sala de cinema. E quanto mais penso sobre ele, mas me apercebo da genialidade que possivelmente escapou a muitos, (não que eu seja um génio). E o ponto mais interessante no meio destas 2 horas e pouco. Nós, sociedade, somos a Harley Quinn da Lady Gaga! Como? Podeis estar a perguntar-vos, pois bem, tudo recai em duas palavras, expectativa e desilusão.
Quando entramos na sala e nos sentamos, após comprar um bilhete, o que esperamos é ver algo que nos estimule, que nos satisfaça visualmente, mas também que nos toque emocionalmente. Neste caso especifico, nós esperamos ver o todo poderoso Joker no grande ecrã. O causador de todo o caos e o primeiro grau da disrupção da sociedade. Sociedade essa que já se encontra quebrada e apenas à espera de um mártir, e figura essa que é o Joker. O objeto do mal, que apela ao lado negro em todos nós. Aquele que quebra as regras e que é o senhor do mundo. Que impõe a sua própria lei, pelas suas mãos.
Tudo o que queremos ver, é o mito, a lenda, o verdadeiro príncipe do crime. Porque após o fim do primeiro filme do Joker, nós estamos do lado dele, apoiamos a sua causa contra uma sociedade e sistema de saúde e justiça que falhou com ele nos seus 40 anos de vida. E mesmo que essa causa seja justificada através de mortes e completo caos, nós apoiamos, mesmo sem nos perceber que o primeiro filme nos critica a nós como espectadores e como cidadãos de uma sociedade que é rápida a julgar. Estes pontos colocam-nos no papel da Harley Quinn da Lady Gaga, ou Lee, como é o nome durante grande parte do filme.
Nós, assim como ela, apenas estamos interessados em ver o caos, a ascensão do vilão e mártir contra o sistema. Não queremos ver o Arthur Fleck fraco, e com problemas mentais. Um Arthur Fleck que criou um mundo fictício para se isolar de todos os problemas que ele tem, e os quais em grande parte foram causados pelos abusos que sofreu na sua infância. Isso não apela, não é ENTRETENIMENTO como diz a música. Afinal, quem iria no seu bom senso pagar um bilhete para ver algo tão cinzento e tão real. Não, a Harley é como nós, quer ver o showman em palco a partir tudo! E se ele colocar maquilhagem, então é cereja no topo do bolo. É isso que nós queremos de uma sequela do Joker. Uma verdadeira Anarquia.
Mas não é isso que o filme nos apresenta…
Joker 2, mostramos o que é estar presente na mente do Arthur Fleck. Através deste filme, mais do que no primeiro, percebemos realmente o quão fragmentada está a sua mente. O que ele sofre diariamente, e o quão isolado ele está no mundo. Matar algumas pessoas? Porque não? Afinal de contas, não foi ele mesmo, foi o Joker, este personagem irreal que habita na sua mente. E tendo em conta que ele foi “colocado neste mundo para fazer as pessoas felizes”, assim como dizia a sua mãe, ser o Joker era realmente ser o seu verdadeiro EU. Ou será que até isso é mentira?
Pois bem, é isso que depois de muito pensar, no tempo em que rolavam os créditos, e enquanto me dirigia de volta para o carro, foi essa a ideia que retirei do filme. O verdadeiro Arthur não é aquele que se veste de palhaço e satisfaz os outros, mas sim aquele que se sente sozinho e que apenas quer amor. Alguém que o veja realmente como ele é. Não esta personagem do seu imaginário, que deixou sair para o mundo real depois de sofrer eventos traumatizantes, uns após os outros. Não, ele quer que o vejam como realmente ele é, um homem triste, só, quebrado por uma sociedade que apenas se ri dele, e não com ele. Um ser humano que teve de se fechar na sua própria mente para fugir a todos os traumas que passou até aos seus 7 anos de idade.
Contudo, assim como a Harley no filme, nós não temos qualquer interesse nessa versão, uma pessoa patética, frágil e iludida. Que pensa que o amor é real sem questionar a maldade de quem se faz passar como a sua salvação. Só para depois perceber que estava errado o tempo todo, o que quebra mais do seu ser que já não dava para quebrar mais. Na verdade, somos literalmente a Harley, porque odiamos esta versão, queremos o Joker fictício. O leme do caos. Não esta versão feliz e apaixonado na sua mente.
É certo que a Harley o quer usar como um meio para atingir um fim. Se é para ganhar fama e notoriedade, se é para semear o caos e fazer frente aos seus pais ricos, não ficou claro durante este filme, mas o certo é que a verdadeira farsa, são os sentimentos que ela faz despertar no Arthur, sentimentos, que acabam por o destruir por completo. E por isso é que chego à conclusão que todo este ódio pelo filme, tanto da crítica como dos fãs, é na verdade infundado, porque este filme toca em pontos muito reais e que damos de barato. Pontos que são descartáveis se não forem verdadeiro entretenimento, se não houver toda aquela pompa e circunstância. No fundo, se não houver maquilhagem na cara, e uma certa sede por vingança ou por vindicação, não queremos saber dos problemas reais do mundo.
E ao fim deste desabafo para convosco, só tenho a admitir que realmente adorei este filme, e acho que o mesmo é como uma cebola, podemos retirar camada a camada, mas para chegar ao fundo da questão, vamos demorar tempo, e não o conseguimos alcançar sem verter umas lágrimas. Por isso, na minha habitual classificação ou 4 em 5 estrelas para Joker: Loucura a Dois.
Em termos de atuações, e imagem, o filme está perfeito, tem cenas que são realmente bonitas e bem orquestradas, mesmo quando estamos apenas na mente do Arthur Fleck. O Joaquin Phoenix volta a ser um monstro da atuação, as cenas em que ele está despido ainda me fazem confusão, e realmente ele consegue fazer-nos sentir algo apenas em simples gestos. Sem ser preciso usar palavras para sabermos o que está a passar na mente do Arthur em dado momento.
No que diz respeito à Lady Gaga, achei também uma atuação muito boa, e nota-se claramente que a cantora, agora atriz, está a ficar cada vez melhor neste último campo. Todas as cenas em que realmente precisavam de performances emotivas, elas estavam lá, e fez uma parelha mesmo muito boa com o Joaquin.
No que diz respeito à parte do musical, eu nao sendo fã deste tipo de filmes, confesso que muitas vezes, as musicas atrapalhavam a dinâmica mais dramática que estava a acontecer, mas não são de todo, um dos pontos de distração do filme. Até diria que muitas das cenas musicais completam a parte mais dramática que estamos a ver, e as vezes são até essenciais para percebermos que estamos na mente do Arthur e não no “mundo real” por assim dizer.
Coisa que concordo, é que isto poderá ser um grande não para as pessoas que queiram ir ver o filme. Porque se não gostares de cantorias, este filme é o que mais tem. Ja sabíamos que esta sequela ia ser um musical, mas acho que toda a gente se agarrou à ideia de que eles estavam a brincar. Até as notícias recentes podem ter induzido nesse fator, e acho que é por aí o outro lado do ódio pelo filme a nível online.
Para terminar, quero apenas mencionar que para aqueles que estão na dúvida de ir ou não ver o filme ao cinema, eu tenho duas respostas para vocês. Se vós fordes realmente uns entusiastas por cinema e que gostam de ver quase tudo no grande ecrã, assim como eu, então recomendo a ir, porque há realmente cenas muito bonitas e alguns de camera incríveis neste filme. Para aqueles que apenas querem ver o que o Joker vai fazer e se há realmente ou não tanta cantoria no filme como se fala pela internet, então poupem 7€ e vejam apenas em casa. Se o box office continuar fraco como está, o filme não tarda a estar no HBO Max de certeza.
Contudo, aqueles que esperam um filme com o Joker a dominar e a tornar-se no príncipe do crime, tenho a dizer que este filme não é para vós. Este filme é muito mais impactante a nível emocional e diria psicológico, do que em cenas de ação e grandes monólogos com frases épicas. Se eu visse este filme quando era mais novo, de certo que não iria gostar de todo, mas como acho, ou pelo menos penso, que neste momento estou mais maduro, consigo adorar isto e ver a verdadeira mensagem nas entrelinhas. Mas esta é a sinceridade que partilho convosco, como sempre.
Para terminar, quero apenas usar uma frase do Joker, adaptando para o contexto desta análise, a verdadeira punchline, digamos assim, que este filme é para nós como sociedade:
O que é que acontece… quando cruzas… um solitário com problemas mentais com uma sociedade que o abandona e o trata como lixo? Eu digo-te o que acontece! Acontece o que mereces, car**ho!
E foi esse o filme que tivemos. Aquilo que merecemos.
Obrigado pela leitura e vejo-vos por aqui. 😉
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